vhoje
sábado, 3 de março de 2012
terça-feira, 20 de setembro de 2011
UM PORTUGUÊS NO NÚMERO 61 DO ATP MUNDIAL!!!! (Recorde até à data)
Rui Machado em 61.º do ranking mundial melhor registo de sempre para um português  | 
De manhã, quando ainda estava em causa o resultado da final, Machado só tinha assegurado uma subida de 10 lugares na tabela. Contudo, poucas horas depois do sucesso em três sets (2-6, 7-5 e 6-2), confirmou-se a maior progressão e o consequente recorde no ténis nacional.
Frederico Gil, segundo melhor português, agora no 100.º posto (subiu 6 posições em comparação com a última semana), detinha - até à data - o registo mais importante de um tenista luso. A 25 de abril deste ano, o lisboeta figurou no posto 62.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Mou é GRATO!! LEIAM... Sabe quem o ensinou! (Bem algumas coisas...!)
Mourinho doou Bola de Ouro à fundação Bobby Robson Leilão de solidariedade   | 
O troféu doado pelo treinador português foi um dos mais importantes que já conquistou na sua carreira, após uma época em cheio no Inter Milão, em 2010.
O leilão irá ser realizado online, entre os dias 8 e 23 de outubro, estando também agendada uma gala, para dia 20 do mesmo mês, que se realizará em St. Edmunds, Suffolk (Inglaterra). O dinheiro que for arrecadado será destinado à fundação Bobby Robson e a um grupo de beneficência para o estudo do cancro da mama.
Entre os vários donativos de diversas celebridades do mundo do futebol, podemos encontrar um passe para assistir a um treino da seleção inglesa de futebol, bilhetes para assistir a jogos do Manchester United (Cortesia de Sir Alex Ferguson) e uma autobiografia assinada por Pelé.
"Toda a minha família está impressionada com o presente de José Mourinho, estamos muito agradecidos. O meu pai iria sentir-se muito orgulhoso pela maneira como todas as pessoas do mundo do futebol estão a contribuir com prémios tão fantásticos", disse esta segunda-feira Mark, Filho de Bobby Robson.
Bobby Robson, foi um dos maiores treinadores da história do futebol e morreu no dia 31 de julho de 2009, aos 76 anos, devido a um cancro.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Ah Grande Russo (e ainda levou milhares de chapadas, e eu que fiz algo parecido com isto em Bruxelas na passagem de Ano de 1991 para 1992, com muitas testemunhas, uma delas conhecida mundialmente!!)
Política
Russo apalpa seios a mil mulheres
14-09-2011
O russo Nickel Sam encontrou uma forma diferente e ousada de apoiar a candidatura de Vladimir Putin à presidência da Rússia. O jovem de 27 anos apalpou os seios de mil mulheres, com o objectivo de transmitir depois essa energia a Putin. Para o efeito, gravou um vídeo onde se vê a convidar voluntárias a deixarem-se tocar.Segundo o autor do vídeo, um dos mais vistos na Internet, "Putin está sempre ocupado com assuntos importantes de Estado. É casado e não tem tempo para brincadeiras. Mas também é um homem e não pode dar-se ao luxo de tocar nos seus potenciais eleitores. Mas Sam Nickel pode fazê-lo, tem muito tempo livre. Sam decidiu apalpar as eleitoras e, em seguida, cumprimentar Putin com a mesma mão".
Enquanto sete mil mulheres se recusaram a ser apalpadas e chegaram a premiar com uma bofetada o autor da graça, outras mil aceitaram com um sorriso.
Link e VIDEO!!!:
http://www.sabado.pt//Multimedia/Videos/Politica/Russo-apalpa-seios-a-mil-mulheres.aspx
É só copiar e colar no browser que bem entender ou tiver pre defenido!
GR suplente do MU
Lindegaard : «Não vim para ficar a limpar o nariz»
Titular na Luz quer lugar de De Gea
Por Redacção2011-09-15 13:49hDepois da excelente exibição rubricada na Luz, Anders Lindegaard acredita que pode roubar o lugar de titular a David de                         Gea na baliza do Manchester United.
«Já disse mil vezes antes, não vim para ficar a limpar o meu nariz. Embora venha de uma pequena equipa na Noruega que se chama Aalesunds, estou aqui porque quero jogar, não vim para ficar sentado no banco», explicou, citado no site do clube.
O guarda-redes dinamarquês foi titular surpresa na Luz, e ficou «satisfeito» com a exibição. «Tive muito prazer e foi uma grande noite. A Luz é um grande estádio para jogar, com um ambiente muito ruidoso. É por isso que vim para o United. Para jogar este tipo de jogos», afirmou.
Jorge Nuno Pinto da Costa (esta entrevista fica mesmo para a história do futebol mundial!)
Pinto da Costa em entrevista à revista "O Tripeiro"
by +FCPorto on Thursday, September 15, 2011 at 10:45am
- "Investidores só entrarão no clube se for nossa vontade"
 - Pinto da Costa concedeu uma longa entrevista à edição deste mês da revista "O Tripeiro" em que faz um balanço dos quase 30 anos na presidência, recordou o passado e perspectiva um futuro risonho, garantindo que o FC Porto nunca deixará de pertencer aos sócios, apesar da tendência mundial para a compra de clubes por parte de grupos de investidores. O Beira-Mar é o exemplo mais próximo, mas Pinto da Costa, que revelou estar noivo de Fernanda Miranda, não quer que seja esse o caminho dos dragões, embora admita que as parcerias económicas são determinantes. Sem nunca dizer que está a cumprir o último mandato, mostrou-se tranquilo quanto à sua sucessão: não apontou nomes, mas garantiu que há pessoas capazes de fazer melhor do que ele.
 - "Os investidores só entrarão no FC Porto se for nossa vontade. O clube tem 40 por cento das acções e é difícil a quem quer que seja conseguir 51 por cento. Portanto, só com um entendimento é que isso é possível. Além do mais, os estatutos da SAD conferem ao clube o direito de escolher o presidente. Acho que o FC Porto nunca poderá ter um dono, tem de ser dos sócios e eles é que têm de ser os donos", frisou, sem, contudo, fechar a porta ao dinheiro externo. "Outra coisa é fazer parcerias e temos de caminhar nesse sentido", referiu. Aliás, esta época o FC Porto aproveitou o investimento estrangeiro para adquirir os passes de Alex Sandro e Danilo e convém recordar o acordo celebrado com o banco brasileiro BMG para a construção do museu do clube.
 - Há muito que o tema da sucessão domina as entrevistas de fundo de Pinto da Costa e esta não fugiu ao assunto. O presidente portista admite que não está muito preocupado. "Penso nisso, mas com confiança. Porque não tenho dúvidas de que no FC Porto há pessoas com grande capacidade para poderem continuar este caminho e fazerem melhor. Mas entendo que não devo ser eu a patrocinar qualquer candidatura, nem a envolver-me em qualquer campanha eleitoral. Existem várias pessoas que eu veria com enorme tranquilidade a assumir a presidência do FC Porto. Não tenho a mínima dúvida de que hoje a massa associativa sabe aquilo de que o clube precisa, sabe as pessoas que são capazes. No momento de escolherem, vão escolher bem", sublinhou.
 - "Teles Roxo ia ser o meu sucessor"
 - Convidado a identificar alguns nomes desta longa caminhada de mais de 29 anos, Pinto da Costa elegeu "pessoas que já cá não estão". Começou por Pedroto - "foi com ele que se traçou toda a estratégia inicial" -, continuou com o comendador Gonçalves Gomes - "uma pessoa fantástica" -, e terminou em Pôncio Monteiro e Teles Roxo. Este último estava escolhido para ser presidente do clube no início dos anos 90. "Até combinámos reuniões periódicas para ele ir ficando por dentro dos assuntos. Ia ser uma sucessão quase natural porque ele foi um elemento muito importante na vitória de 1987. Depois, recebo a notícia de que ele tinha morrido daquela forma estúpida. [acidente de viação no dia de Natal de 1991]
 - Quatro Troféus
 - "Quando o FC Porto foi campeão após 19 anos de jejum. Tem um significado especial, embora não conste dos 54 porque ainda não era presidente. Era director para o futebol. Como presidente há três especiais: o de Viena, o primeiro tri e o penta, que ninguém conseguiu ganhar, nem o Benfica de Eusébio, nem o Sporting dos cinco violinos"
 - Fonte: Revista "O Tripeiro"
 
domingo, 11 de setembro de 2011
Este será meu cumprimento
                               acabaram meus cigarros
dinheiro tenho pouco
nem uma pessoa influente de poder conheço
não levarei ninguém a qualquer promoção
portanto, não leia este verso
este poema como um meio,
por ele – que sou eu –
não chegará a nenhum futuro brilhante
nem a ocupar um cargo de bom salário
ou daqueles de excelentes aparências.
não tenho nem como trocar favores
não tenho nada que lhe possa interessar
se for por isso nem mesmo um minuto
vale perder comigo.
não precisa de discrição,
afasta-se rápido
finja em qualquer lugar que passo despercebido.
muitos conhecidos pensam em me querer
- no mínimo do que tenho.
mas não tenho nada, nem o mínimo
nem mesmo um verso rimado
não tenho o que oferecer
pode pensar que me ver
é avistar um rosto de dia de semana
um rosto de olhar cansado o trajeto de uma terça-feira
sim, sou um dia de semana arrastado
sem uma ninharia.
melhor, então, é me deixar jogado num canto
prometo que a partir de hoje
logo que alguém falar comigo
antes de todas as coisas falarei assim direto
não tenho nada – será meu cumprimento
Jefferson Bessa
dinheiro tenho pouco
nem uma pessoa influente de poder conheço
não levarei ninguém a qualquer promoção
portanto, não leia este verso
este poema como um meio,
por ele – que sou eu –
não chegará a nenhum futuro brilhante
nem a ocupar um cargo de bom salário
ou daqueles de excelentes aparências.
não tenho nem como trocar favores
não tenho nada que lhe possa interessar
se for por isso nem mesmo um minuto
vale perder comigo.
não precisa de discrição,
afasta-se rápido
finja em qualquer lugar que passo despercebido.
muitos conhecidos pensam em me querer
- no mínimo do que tenho.
mas não tenho nada, nem o mínimo
nem mesmo um verso rimado
não tenho o que oferecer
pode pensar que me ver
é avistar um rosto de dia de semana
um rosto de olhar cansado o trajeto de uma terça-feira
sim, sou um dia de semana arrastado
sem uma ninharia.
melhor, então, é me deixar jogado num canto
prometo que a partir de hoje
logo que alguém falar comigo
antes de todas as coisas falarei assim direto
não tenho nada – será meu cumprimento
Jefferson Bessa
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Amália
AMÁLIA RODRIGUES
  Cantora: 1920 – 1999
PORQUE O FADO NÃO SE CANTA, ACONTECE...  |      QUANDO     TUDO ACONTECEU... 1920:     Nasce     em Lisboa no Bairro de Alcântara a 1 de Julho (data escolhida por Amália     porque nos registos consta o dia 23). -     1929: Entra na Escola Oficial da     Tapada da Ajuda, onde terminará a instrução primária. - 1934: Trabalha como bordadeira, engomadeira e tarefeira. - 1935:     Desfila na Marcha de Alcântara e canta pela primeira vez, acompanhada     à guitarra, numa festa de beneficência. - 1938:     Representando o Bairro de Alcântara participa no Concurso da Primavera.     - 1939: Estreia-se como fadista no Retiro da Severa. - 1944:     A estada no Brasil, prevista para seis semanas, estende-se por três     meses. Actua no Casino de Copacabana. - 1945:     No Brasil grava os primeiros dos 170 discos (em 78 rotações)      da sua carreira. - 1947: É     protagonista no filme «Capas Negras», batendo todos os recordes de exibição     ( 22 semanas em cartaz no Cinema Condes). - 1948:     Recebe o prémio do SNI (Secretariado Nacional de Informação) para a     melhor actriz, pelo seu papel em «Fado», filme de Perdigão Queiroga. - 1949: Actua pela primeira vez em Paris e Londres. - 1951:     Digressão a África: Moçambique, Angola e Congo. - 1952:     Actua pela primeira vez em Nova Iorque no La     Vie en Rose, ficando 4 meses em cartaz. Assina contrato com a editora     discográfica Valentim de Carvalho, que passa a gravar todos os seus discos.     - 1953: É a primeira artista     portuguesa a cantar na televisão americana no programa «Eddie Fisher Show».     - 1954: Edita o primeiro LP nos     Estados Unidos. Actua no Mocambo,     em Hollywood. - 1955: Interpreta     a «Canção do Mar» e o «Barco Negro» no filme de Henri Verneuil «Os     Amantes do Tejo». Filma no México «Música de Sempre» com Edith Piaf. - 1957:     Estreia-se no Olympia em Paris     e começa a cantar em francês. Charles Aznavour escreve para ela «Ai,     Mourrir pour Toi». - 1961: Casa     no Rio de Janeiro com o engenheiro César Seabra com quem vive até à morte     deste em 1997. - 1962: Lança o     disco «Asas Fechadas» e «Povo que Lavas no Rio» do poeta Pedro Homem de     Mello. - 1966: Actua no Lincoln Center     (Nova Iorque) com uma orquestra sinfónica dirigida pelo maestro André     Kostelanetz. - 1967: Recebe em     Cannes, pela mãos do actor Anthony Quinn, o prémio MIDEM (Disco de Ouro)     para o artista que mais discos vende no seu país, facto que se repete nos     dois anos seguintes, proeza só igualada pelos Beatles.     - 1970: Actua em Tóquio, Nova     Iorque e Roma e recebe uma alta condecoração francesa. - 1975: Regressa ao Olympia     em Paris. - 1976: É editado pela     UNESCO o disco «Le Cadeau de la Vie» em que figura ao lado de Maria Callas     e de Jonhn Lennon. - 1977: Canta     no Carnegie Hall de Nova Iorque. -     1985: Volta a cantar no Olympia     de Paris. Dá o primeiro concerto a solo no Coliseu     dos Recreios de Lisboa. - 1989: Comemora     os 50 anos de carreira com uma exposição no Museu     do Teatro em Lisboa. - 1990: Dois     grande espectáculos: Coliseu dos     Recreios e no S. Carlos onde,     pela primeira vez em 200 anos, se ouve cantar o fado. - 1994:     Actua pela última vez em público no âmbito de Lisboa, Capital da Cultura.     - 1995: É operada a um tumor no     pulmão. Edita o seu último disco «Pela Primeira Vez». - 1998: É lançado o disco O     melhor de Amália, muito aclamado pela crítica internacional. É     homenageada na Expo 98. - 1999: A     6 de Outubro morre em Lisboa, na sua casa na Rua de S. Bento. |    
PORTUGAL: RURAL, POBRE E ATRASADO |    
|          No princípio do século XX       Portugal tem cinco milhões de habitantes. É um país essencialmente       rural, pobre e atrasado. Quarenta mil portugueses emigram por ano. A taxa       de analfabetismo ronda os 70%. A 5 de Outubro de 1910 Portugal torna-se       numa das primeiras repúblicas da Europa. O novo regime mobiliza o país e       apaixona a opinião pública. Escolas e educação, prioridade. A legislação       consagra os novos direitos de liberdade e cidadania. A prática do exercício       desses direitos engendra grandes contradições. Comportamentos       restritivos e repressivos da parte  do Partido Republicano no poder. Portugal participa na I Guerra       Mundial (1914 -1918). Agravamento das tensões dentro da sociedade       portuguesa estão na origem da Ditadura de Sidónio Pais. Em 1917 Portugal       sofre o desastre da batalha de La Lys, em França. Agudizam-se as tensões       entre a sociedade urbana, em vias de industrialização e o mundo rural       tradicional e arcaico. Em Fátima, três miúdos afirmam ter visto Nossa       Senhora em cima de uma oliveira. Em Lisboa, na Estação do Rossio, Sidónio       Pais é assassinado a 14 de Dezembro de 1918. Bento Gonçalves, dirigente       anarco-sindicalista, visita a Rússia durante a revolução bolchevista.       Em 1921 fundará do Partido Comunista Em       1920 a Igreja recusa a imagem de Nossa Senhora de Fátima do escultor       Teixeira Lopes pela sua sensualidade. Nas faldas da Serra da Gardunha, um       tocador de cornetim é cobiçado pelas duas bandas do Fundão: «música       nova» e «música velha». A vida de músico é insegura, ele tem que       assegurar o sustento dos quatro filhos e da mulher novamente grávida. É       sapateiro, mas por causa do cornetim, poucos sapatos        fizera. Sai dos confins da Beira Interior e resolve tentar a sorte       na capital. É o tempo das cerejas (Maio e Junho) e em Lisboa, na Rua       Martim Vaz, a mulher dá à luz uma criança do sexo feminino: Amália da       Piedade Rodrigues.  A vida está       má e o sapateiro-músico não arranja trabalho. Voltam todos para o Fundão       mais pobres do que nunca. Excepto Amália que, com 14 meses, fica em       Lisboa com os avós.  |    |
«CANTA       ESSA, CANTA ESSA QUE JÁ PARARAM SEIS...»  |    |
|         |               Amália é a quinta        filha de uma prole de nove irmãos. Vicente e Filipe, os  mais       velhos. A mortalidade infantil é grande e a pneumónica alastra:  José e       António, ainda meninos, morrem. Depois de Amália nasceram mais  quatro meninas: Celeste, mais nova dois anos; Aninhas que morre aos  dezasseis       anos;  Maria da Glória que logo morre e por fim, Maria Odete. 3       de Dezembro de 1923. Em Manhattan, bairro de Nova Iorque, nasce Maria       Callas, filha de emigrantes gregos. Amália não tem brinquedos, mas sabe       duas ou três cantigas. Os vizinhos pedem-lhe que cante e enchem-lhe as       algibeiras do bibe com rebuçados e moedas.        Duas meninas que irão pôr em causa o que há muito está       estabelecido. Duas vozes singulares, dois marcos entre o «antes» e o «depois»:       uma sê-lo-á na interpretação da Ópera; outra na interpretação do       Fado. Enfim, duas renovadoras.               Golpe militar de 28 de Maio de       1926. A República parlamentar, derrubada. O novo regime começa por       limitar a liberdade de expressão e associação – a censura! Ilegalização       progressiva de partidos e sindicatos. Ascensão de Salazar - de ministro       das Finanças a Presidente do Conselho. Amália é uma rapariguita tímida.       A única pessoa que consegue que ela cante é o avô. Amália dentro de       casa, sem ser vista, canta tangos de Carlos Gardel e muitas outras coisas.       Sentado à janela o avô conta as pessoas        que param para a ouvir: «Canta essa, canta essa que já pararam       seis». Amália tem quase nove anos e a avó,       analfabeta, manda-a para a escola da Câmara,        na Tapada da Ajuda. No caminho come figos de piteira e rouba       florinhas para levar à professora. Gosta tanto da escola que nada a       impede de ir, nem mesmo a sua bronquite asmática. Em casa é que não       quer ficar! Adora a escola onde o tempo é dela e da sua fantasia. Ali       ninguém a manda limpar o pó, nem lavar a loiça ou esfregar o chão.  Aprende as lições de ouvido e       chamam-lhe «sabichona». Mas uma coisa não lhe entra na cabeça:       Geografia! A professora insiste para que ela compre o livro – o seu       primeiro livro. Quando mais tarde é obrigada a comprar outro, a avó       perguntar-lhe á: «Aquele ainda está novo, para que queres outro?». Na escola da Câmara é obrigatória       a bata branca por cima do vestido. Lá vai Amália a caminho da escola e,       por entre o arvoredo, o cântico dos pássaros dilata o espaço. Encontra       uma rapariga toda rota, ainda mais pobre do que ela. Tira o vestido que       traz por baixo da bata e dá-lho. Quando chega a casa, a avó diz-lhe para       tirar a bata para lavar. Finge um ar admirado e atrapalhada diz: «Ai!       Perdi o vestido!». «Olha a fidalga, a dar vestidos!» exclama a avó       entre  tabefes. Faz o exame de instrução primária       e, como todas as meninas, leva o seu vestido novo que lhe fica muito bem.       É de crepe-da-china azul turquesa às pregas, feito pela primeira vez       numa modista. Depois do exame nunca mais o há-de vestir porque ficará a       aguardar uma outra ocasião importante… Entretanto cresce. Tem doze anos       e para ela a escola acabou! Como       é hábito da gente pobre, grandes e pequenos contribuem para o sustento       da casa. Aprender um ofício, impõe-se. Ofício de bordadeira, escolhe.       Ganha dois escudos por dia. O dinheiro não chega para o bilhete do eléctrico.       De manhã cedo galga ruas e ruelas a pé, da Ajuda às Escadinhas do       Duque, perto do Chiado. Dias e meses a passar a ferro... Bordar? Nicles!       Como nada aprende, a avó não quer que ela continue. Uma tia é       encarregada numa fábrica de bolos e rebuçados, na Pampulha. Embrulham-se       rebuçados, descascam-se marmelos e outras frutas. É preciso gente. Amália        ganha agora seis escudos por dia e quanto mais descascar e       embrulhar, mais ganha. |    
«NUNCA NOS REVOLTÁMOS COM A VIDA» |    |
|                   Amália, menina trabalhadeira num         bairro popular de Lisboa... Entretanto, o que está a acontecer no resto         do mundo? Consulta a Tábua         Cronológica.         |               Tem 14 anos feitos. Resolve ir       viver com os pais e irmãos que regressaram a Lisboa. Em casa da avó as       coisas eram organizadas. Passa a viver numa confusão maior. Casa pequena       para tanta gente, um casal e os seus cinco filhos. É preciso disciplina.        Como é costume das gentes da Beira Baixa, as hierarquias são para       se respeitar. O irmão mais velho é que quem manda, é quem bate.       Bastantes bofetadas apanha por cantar na rua - ela que tanto gosta de       cantar. As raparigas nada podem fazer sem a sua autorização. Amália       ,como filha mais velha, tem que ajudar a mãe na lida da casa. Passa as       calças e as camisas dos irmãos, tira nódoas dos fatos domingueiros.       Todos os dias leva o almoço aos irmãos à tasca o “77” em Alcântara,       onde eles só consomem vinho para poderem usar as mesas. A avó, uma mulher áspera que dera       à luz 16 filhos, tem agora vários netos. Junta a família toda        aos Domingos. Cada um leva qualquer coisa para o almoço e jantar.       Bem dispostos, os mais velhos cantam coisas da terra, cantigas da Beira       Baixa. Os mais novos o fado. O fado tem pouco mais de um século.       É uma manifestação urbana dos bairros        populares e operários de Lisboa. Com o advento da Rádio e do       disco, as vozes das fadistas Ercília Costa, Ermelinda Vitória, entre       outros, chegam directamente a um público mais vasto. No Cais da Rocha a mãe monta uma       pequena banca de fruta. Amália deixa a fábrica da Pampulha para ajudar a       mãe. No meio do burburinho geral, do colorido das frutas e das hortaliças,       ecoam os pregões - pequenas melodias ancestrais -        memorial rural das gentes da Beira Baixa, Trás-os-Montes, Minho. Tão pobres são que o seu grau de       pobreza é para eles coisa natural. Ninguém se lamenta. É o fado da       gente pobre. Se está frio, à braseira ficam. Se chove em casa,       alguidares, tachos e panelas no chão espalhados, apanham a chuva. Se estão       a dormir e a água cai, um último recurso é fugir para o lado, «e       dentro do cobertor saltava ainda uma pulga!» - escreve nas suas memórias       a própria Amália: «Mas nunca nos revoltámos com a vida. Com certeza,       que havia pessoas diferentes de nós, senão não havia revoluções. Mas       nuca ouvi sequer falar dessas coisas. Os privilegiados é que falam dessas       coisas, não são os pobres. E no fundo entre os pobres também há       diferenças de classe. Éramos gente à margem».               Aos       sábados descobre o cinema nas reprises       do Alcântara, que apresenta filmes muito depois de terem sido       estreados nas principais salas de Lisboa. Vê a Dama       das Camélias com a Greta Garbo (Camile 1937). Bebe vinagre e põe-se       nas correntes de ar, para ficar tuberculosa como a sua heroína. Ser       artista é o seu grande desejo. Tem dezasseis anos e a sua inseparável       irmã Celeste catorze. Resolvem fugir num barco, clandestinas, mas       vestidas de homens, para ninguém se meter com elas. Vestem os fatos dos       irmãos. São seis da manhã…passado meia hora já estão novamente em       casa.               Em       1938 representa o Bairro de Alcântara, onde vive, no Concurso da       Primavera em que se disputa o título de Rainha do Fado. Canta aqui e ali,       cantigas tradicionais e danças rurais, do vira ao malhão, bem como as       marchas populares nas festas dos santos populares de Lisboa, organizadas       pelas colectividades de Cultura e Recreio com cujo espírito se       identificará sempre. Conhece o guitarrista e torneiro mecânico Francisco       Cruz por quem se apaixona. Tenta o suicídio por desgosto de amor. |    
«PORQUE O FADO NÃO SE CANTA, ACONTECE» |    |
|         |               Guernica é bombardeada. Península       Ibérica, ditadura. Em Portugal, Salazar continua. Em Espanha, Franco começa.       Hitler, a Polónia invade. O Estado Novo cria a carteira profissional de       fadista, sem a qual os fadistas não se podem apresentar em público. O       fado salta das ruas e vielas de Lisboa, dos retiros e casas de pasto       tradicional para as chamadas «casas de fado» como o Solar       da Alegria, o Retiro da Severa,       o Luso destinado a um público sofisticado e burguês, com poder de       compra. É       precisamente numa desta casas, o Retiro       da Severa, que em 1939 Amália faz a sua estreia profissional. No ano       seguinte actua no Solar da Alegria, como artista exclusiva com repertório próprio.       Estreia-se no Teatro Maria Vitória,       na revista «Ora vai tu» personificando a fadista vestida com xaile       negro. Casa-se com Francisco Cruz, o torneiro mecânico e guitarrista       amador.                A       jovem Amália impressiona todos. Canta com intensidade dramática o fado       porque «o que interessa é sentir o fado. Porque o fado não se canta,       acontece. O fado sente-se, não se compreende, nem se explica».                       Durante os anos de guerra uma parte       da burguesia lisboeta vive os anos loucos. Os intelectuais, indignam-se.       Democratas tomam partido dos que na Europa combatem a besta nazi. Salazar,       vacilante. Espiões de ambos os lados - aliados e nazis – disputam as       noites lisboetas, nos cabarés e nas casas de Fado. Divorciada       a seu pedido, Amália tem 23 anos. É        independente, jovem e divertida. Ganha bem e sente-se bem em       Lisboa. A vida é uma festa. Restaurantes, boites,       espanholas e refugiados, cruzam-se. Quando canta ao público agrada. Canta       tudo o que está na berra. Dança tudo o que está na moda: passodobles, tangos, sambas, valsas.  Todos lhe fazem a corte. Leva o público das casas de fado       atrás dela, de um lado para o outro, do Negresco       para o Tokai, para o Nina. Em       1943 estreia-se com grande sucesso no estrangeiro em Madrid, a convite do       embaixador português. Começa o seu sucesso internacional. Em 1944 está       no Brasil. Delírio! A sua estada, prevista para seis semanas, estende-se       por três meses e grava, em 78 rotações, os seus primeiros discos. Em 1945 o nazismo, derrotado. A       oposição ao ditador Salazar, transgride. Reuniões, manifestos,       abaixo-assinados. Surge o Movimento de Unidade Democrática. Lopes-Graça       e os poetas Carlos de Oliveira, José Gomes Ferreira, João José Cochofel       (entre outros) fazem as «Heróicas» para serem cantadas nas ruas de       Lisboa. A grande ilusão… Em       1949 António Ferro é uma espécie de ministro de Salazar para a cultura.       Tem o apoio artístico do sector modernista nacionalista, entre os quais       se destaca Almada Negreiros. Amália já fizera grande sucesso no Brasil e       em Madrid. Os seus discos são vendidos em 16 países. Pela primeira vez       vai a Londres e a Paris a convite de António Ferro, que considera Amália       uma grande artista e mulher inteligente. Sempre que é necessário       abrilhantar as recepções governamentais pede-lhe que esteja presente       para cantar e encantar: «Achava que eu era        melhor toalha que tinham em casa mas nunca me ajudou a ser a Amália       Rodrigues». Nunca ninguém do governo a elogiou. A        única pessoa que sempre a tratou com respeito foi realmente o António       Ferro. Salazar sempre que a ela se referia, chamava-lhe a       criaturinha .                «Sociedade       repressiva, mesquinha e tacanha!» clamam os da Oposição. As tertúlias       nos cafés de Lisboa são o reduto da desobediência. A irreverência e a       laracha são as grandes formas de exprimir a opinião sem rodeios sobre os       estado de coisas em Portugal. Neo-realista e surrealistas confrontam-se       ideologicamente. Em 1953 os surrealistas portugueses, tendo à cabeça o       poeta Mário Cesariny, publicam o manifesto A       Afixação Proibida. Os então neo-realistas Manuel da Fonseca e       Carlos de Oliveira publicam respectivamente O       Fogo e as Cinzas e Uma abelha na       chuva.  |    
«PODIA TER SIDO MUITA COISA SE NÃO FOSSE AQUILO QUE SOU» |    |
|                  Amália canta no Argentina         (teatro de ópera) em Roma. Entretanto, o que está a acontecer no resto         do mundo? Consulta a Tábua         Cronológica.         |               Em       1950 organizam-se vários espectáculos de apoio ao programa económico       para restaurar uma Europa em ruínas. É o célebre plano Marshall. Na       cidade martirizada de Berlim, os primeiros espectáculos. Participam todos       os países que aderiram a este plano americano. A escolha recai sobre       cantores de música clássica, mas Portugal não tem cantores líricos de       nomeada. Amália é a única artista portuguesa conhecida: «Como ouviram       alguns discos meus preferiram escolher-me». Canta os poetas portugueses       Pedro Homem de Mello e David Mourão Ferreira. A Irlanda, país onde a música       popular tem fortes raízes, é também representada por cantores ligeiros.               Em       Roma Amália quebra um tabu. Canta no Argentina,       um teatro de Ópera. Neste espectáculo participa a cantora lírica        Maria Caniglia, o violinista Jacques Thibault e o tenor Fiorenzo       Tasso, acompanhados por uma orquestra sinfónica. O contraste é grande.       Amália é a única cantora ligeira. Treme como varas verdes. Está       sozinha com a guitarra portuguesa de Raul Nery e a viola de Santos       Moreira: «Três gatos pingados que não sabiam nada de música a tocarem       ao pé de uma orquestra sinfónica, enorme!». Quando entra no palco tem       uma tal cara de medo, que nas primeiras filas pessoas olham-na com       ternura: «Acho que tive o público comigo, ainda antes de começar». O       sucesso é grande. Sai do palco, começa a rir e a chorar ao mesmo tempo.       «Tive o único chilique da minha vida. Era tudo no palco com leques, à minha roda,       a dizerem. Perchè       píangere? Un sucesso! Un       trionfo! Perchè píangere? E       eu ao mesmo tempo chorava, ria, ria. Foi um tal medo…porque os fadistas       dantes tinham muito mais complexos de inferioridade do que agora. Eu é       que tirei os complexos ao fado. Nessa noite, sem querer, consegui muito.       Foi um espectáculo extraordinário para mim, porque as críticas foram       formidáveis. À saída, toda a gente estava à minha espera, a gritar: Brava!Brava!Brava!»               Numa       da sua estadas em Nova Iorque, Danny Kaye convida-a para entrar num espectáculo       com ele na Broadway: «Quem sabe, se eu tivesse ido, correndo-me bem as       coisas, como sempre me correram em toda a parte, talvez eu tivesse partido       dali para uma coisa importante. Eu       podia ter sido muita coisa se não fosse aquilo que sou. Mas nesta altura       não era capaz de cantar ao lado de Kaye, embora tivéssemos ficado       grandes amigos».                Em       1954 faz uma digressão pelo México. Uma jornalista famosa de Hollywood,       Hedda Hopper quer que ela se vista de branco, que se decote e renuncie ao       xaile preto. Quer que Amália ponha uma rosa vermelha na cabeça. Amália       explica-lhe que a rosa no cabelo é para a Espanha e ela é de Portugal,       de Lisboa.                O       seu empresário americano, Blackstone leva-a aos estúdios de Hollywood.       Assiste às filmagens de “Someone At Last”, em que Judy Garland e       James Mason são os protagonistas. Acha tudo muito estranho porque uma das       cenas é repetida dezassete vezes, enquanto em Portugal um actor nem       sequer uma vez pode enganar-se, porque não há filme suficiente para       repetir a cena. Conhece assim James Mason: «Uma portuguesa que ia comigo       é que ficou a amarinhar pelas árvores por ter visto James Mason. Até       pedi desculpa ao homem e disse-lhe que em Portugal não éramos todos       assim» conta Amália ao seu biógrafo Victor Pavão dos Santos.               Neste       período não fica nos Estados Unidos porque não quer. Em Nova Iorque       canta pela primeira vez na televisão (na NBC), no programa do Eddie       Fisher «patrocinado pela Coca-Cola, que tive que beber e não gostei nada».       Grava um disco de fado e flamenco. Abrem-lhe uma conta no banco para ficar       mais tempo e gravar dois álbuns, com canções de Cole Porter, Gershwin,       Jerome Kern. Fica muito contente pelo convite, mas não aceita porque está       farta da América: «Eu nunca trabalhei na minha vida e para fazer um álbum       com canções americanas tinha de ficar ali a ensaiar, a trabalhar. Eu       gosto de cantar sem estar a pensar que estou a cantar. Não sei cantar de       outra maneira. E bastava-me a preocupação de estar a falar inglês para       perder a espontaneidade».                «       É uma temperamental. Uma meridional!»- clamam uns. «É a grande intérprete       da alma ibérica!» - dizem outros. Quando regressa a Lisboa é novamente       convidada a cantar na embaixada portuguesa em Espanha onde «me tornei “flamengueira”.       Conheci as melhores gargantas de flamenco!». Canta e sente que o fado e o       flamenco têm a mesma autenticidade: «De um e de outro modo, cada um tem       a sua verdade». Anos mais tarde, quando grava o disco «Fado de Portugal       e Flamenco de Espanha», dá corpo ao seu iberismo. |    
| «TROVA DO VENTO QUE PASSA» | |
|                  Amália, Manuel Alegre, Pedro         Homem de Melo, David Mourão Ferreira e Alain Oulmain... Entretanto, o         que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua         Cronológica.         |               Por       uns - compreendida , por outros - apupada, mas a ninguém indiferente.       Decide cantar o fado-canção. Encontra uma nova postura de cantar o fado,       mais desabrida. Canta com entusiasmo os fados de Frederico Valério, Raul       Ferrão e de Frederico de Freitas «com uma estrutura musical mais       complexa, com refrão e coplas, por oposição à simplicidade estrófica       dos velhos fados castiços». (Rui       V. Nery)               Amália       dá ao fado um novo        fulgor. Canta o repertório tradicional de uma forma diferente «subordinando       o ritmo regular da melodia ao sabor da dicção poética, com suspensões       inesperadas e acrescenta ornamentos novos, que foi a buscar às cantigas       da Beira Baixa», escreve o mesmo musicólogo. Ultrapassa todas as       fronteiras e preconceitos culturais. Amália tem a arte de sincretizar o       que é urbano e rural, o que é popular e erudito através de uma voz de       timbre único, prenhe de emoção sensual e musical.               Os       poetas Pedro Homem de Mello e David Mourão Ferreira passam a escrever       para ela. Canta os grandes poetas da língua portuguesa, dos trovadores a       Camões, de Bocage aos poetas contemporâneos guiada pela sua grande intuição.       Conhece o compositor luso-francês Alain Oulmain: «Um dia estava num       acampamento e levaram-me Alain Oulmain, que tinha uma música a pensar em       mim, o Vagamundo. Fui ouvir e       gostei. Seguiram-se outras e fui contra a maré das pessoas que estavam ao       pé de mim, que achavam aquilo muito complicado. Os guitarristas de facto,       tiveram de aprender aquelas harmonias novas que o Alain trazia, que não       tinham nada a ver com o fado porque o fado é pobre em harmonia. O Alain       nasceu no Dafundo, nasceu em Portugal, apesar de ser francês. Tem uma       sensibilidade grande de artista, foi criado num certo ambiente. Depois,       ouviu-me cantar, sentiu que a minha sensibilidade estava muito perto da       sua. Dá-me a possibilidade de voar.»                Amália       tem um humor marcadamente lisboeta, construído em Alcântara, bairro        predominantemente operário onde o humor corrosivo é cultivado       quase como uma forma de vida. Brinca com ela própria, com o seu próprio       talento. Sobre a sua primeira aparição na televisão portuguesa em 1958       conta ela ao seu biógrafo: «Andou sempre uma mosca à minha volta.       Cantou melhor a mosca do que eu. Quando havia lá moscas, e acho que havia       sempre, as pessoas disfarçavam. Eu, como havia a mosca, sacudi-a. E       depois só se falava na mosca». Perante situações complicadas constrói       a sua coragem na capacidade da resposta pronta. Quando alguém lhe fala       sobre as condecorações e outras honrarias que recebera durante a       ditadura, responde: «Por mim, não me levantava do meu cadeirão. Não       passei pela vida, a vida é que passou por mim».               Na       década de 60, razões económicas e razões políticas levam os       portugueses a emigrarem em massa para os países ricos da Europa.        Em Angola rebenta a Guerra Colonial. Movimento estudantil contra a       repressão salazarista. Muitos portugueses, opositores ao regime são       obrigados ao exílio. Em Argel o poeta-exilado Manuel Alegre recebe uma       carta do seu amigo Alain Oulmain pedindo-lhe autorização para Amália       interpretar «Trova do vento que       passa» poema que era já uma referência para a resistência       anti-fascista portuguesa na voz de Adriano Correia de Oliveira. A nova       versão surge no disco da Amália «Com que Voz» (1970)               Em       1962 aparece o primeiro disco com músicas de Alain Oulmain e que é muito       bem aceite por um público de uma elite cultural. Para alguns não é       fado. Os próprios guitarristas quando tocam as coisas de Oulmain, vêem-se       à nora. José Nunes dizia sempre: «Vamos às óperas».               A       sua grande sensibilidade artística e intuição faz com que o fado Povo       que lavas no rio, um poema que Amália escolhe não sabe bem porquê,       de Pedro Homem de Mello, tenha uma dimensão política. O mesmo se passa       com um antigo fado do Armandinho que se torna num hino aos que se       encontram presos em Peniche e que se passou a ser conhecido como o «fado       de Peniche». O disco foi proibido. Para Amália quando «o cantei, aquilo       era uma tristeza de amor, que é um sentimento muito mais bonito e muito       mais dorido que uma ideia revolucionária. Não me passavam pela cabeça       prisões.»               Em       1966 está novamente nos Estados Unidos. Canta em salas normalmente       vedadas à participação de cantores de música ligeira como no Lincoln Center e no Hollywood       Bowl. Recebe um telefonema de Lisboa a dizer que Alain Oulmain foi       preso pela PIDE. Amália dá todo o seu apoio ao amigo e tudo faz para que       seja liberto e posto na fronteira.               Em       1967 o Papa Paulo VI visita o santuário de Fátima, a irmã Lúcia e       condecora o director da PIDE. Fotos,       factos, fados…               Amália       continua a cantar os poetas esquerda: Ary dos Santos,        Manuel Alegre, O’Neill, David Mourão-Ferreira. Em 1968 o ditador       Salazar cai da cadeira de lona em que descansava. Incapacitado é substituído       pelo professor universitário Marcelo Caetano. A PIDE encerra       temporariamente o Instituto superior Técnico. Em 1969 eleições em que       concorrem pela primeira vez os movimentos democráticos MDP/CDE e CEUD que       representam as duas facções mais importantes dos opositores ao regime.       Fraude eleitoral. Deputados da chamada Ala Liberal são eleitos para a       nova Assembleia Nacional. Onda de greves em todo o país. Em 1969 Amália       é condecorada por Marcelo Caetano na Exposição Mundial de Bruxelas. Início       de uma grande digressão à antiga União Soviética. Mais uma vez a sua       voz peculiar, deslumbra.               Amália       nunca fica maravilhada com o que lhe acontece. É sempre igual a si mesma.       Terá sempre uma atitude displicente em relação aos seus êxitos e ao       seu talento. Nunca guardará nada relacionada com a sua carreira artística:       «Passei a minha vida a surpreender-me com o que me aconteceu, mas nunca       lutei, como nunca sofri para conseguir fazer alguma coisa, para o que se       chama vencer, talvez não tenha gozado bem as coisas por que passei.       Embora saiba que a única artista portuguesa conhecida no estrangeiro seja       eu».               1971:       Zeca Afonso grava para a editora Arnaldo Trindade o disco Cantigas de Maio que inclui Grândola,       Vila Morena. Em Paris Amália visita Alain Oulmain e conhece       pessoalmente Manuel Alegre que, convalescente de uma doença, encontra-se       escondido em casa do seu amigo. Início de uma grande amizade e colaboração.        Manuel Alegre confessa que ficou um pouco atrapalhado. No exílio,       em Argel, ouvia os seus discos        e «sentia um bocado de Portugal comigo, porque no fundo, ninguém       como ela exprime o que defino por a nossa atlanticidade, essa forma melancólica       e nostálgica que é a saudade.»               Quando       se emociona, canta de modo tão intenso que chora. «Uma vez num barco, em       Vila Franca, à noite cantei aquela música do Fado       Cravo que as pessoas se ajoelharam aos meus pés. Ajoelharam-se porquê?       Porque senti uma emoção muito grande. (…) Nem sei como chamar a isto.       Talvez eu não seja criadora, mas quando canto estou a inventar. E, para       inventar, preciso de música. O fado quando comecei era amarrado como se       tivesse uma só divisão e a minha maneira de cantar deu-lhe mais duas       casas. Porque nada dentro daquela divisão me deixava fugir. A minha voz       queria fugir dali, mas batia na porta. Tive que cantar à minha maneira.» |    
| «AI LUCIDEZ QUE ME DOI» | |
|         |              Nos       anos 60 o Turismo foi uma das industrias        mais agressivas em Portugal. Exportava a imagem de um país de brandos       costumes (embora há anos em guerra) do Avril       au Portugal - país do sol (embora em Abril       águas mil), do Fado, o Futebol e Fátima. São       estes os Fs que sustentam o Fascismo       salazarento.               Amália       é assim conotada com um dos Fs       e, por isso, mal tratada por alguns militantes da esquerda mais radical       (alguns deles emigrarão mais tarde para partidos de direita). Muitos       desconhecem a sua generosidade e até a sua contribuição        para a Comissão Nacional de Socorro aos        Presos Políticos durante o fascismo, «da mesma forma apaixonada e       talvez ingénua com a qual agradeceu aos donatários salazaristas que lhe       proporcionaram, a ela, rapariga do povo, os palcos, os microfones»       escreve o deputado comunista Rubens de Carvalho.               Amália       volta a cantar Mãe Negra, embalando       o filho branco do senhor…, que        cantara nos anos sessenta em Angola e Moçambique. Incluída na       lista de canções malquistas pelos censores do regime de Salazar, esta       canção faz parte do cancioneiro da resistência ao regime. Já durante a       revolução democrática e nacional do 25 de Abril canta o Fado       de Peniche. No Teatro Vasco Santana        participa com o actor, advogado e comunista Morais e Castro, em       sessões de esclarecimento sobre o 25 de Abril sobre a situação dos       artistas de espectáculo.               A       democracia portuguesa acaba por lhe prestar as maiores e mais sinceras       homenagens. Em 1980 é condecorada com o grau de oficial da Ordem do       Infante D. Henrique pelo então presidente da República Mário Soares que       a considera «uma mulher conservadora, crente e naturalmente apolítica       mas que soube conviver bem com a Revolução       dos Cravos». Ela própria lhe disse que a diferença entre «vocês e       os de antigamente, é que vocês sentam-me à vossa mesa. Os outros       recebiam-me muito bem, gostavam muito de mim e de me ouvir cantar, mas era       diferente, só era recebida no fim, para cantar». Sempre       gostou de fazer versos: «coisas que sentia», reconhecendo que não é       poeta. Lança o disco com poemas seus Gostava       de Ser Quem Era. Em 1997 edita       o Livro Versos, confirmando a       sua veia poética: «Ai minha infância dorida/ Ai o meu bem que não foi/       Ai minha vida perdida/ Ai lucidez que me dói»        Os seus versos são ecos empolgantes da sua voz, única,        remanescente popular da poética eivada de lirismo e da atracção       pela morte: «Vem morte que tanto tardas / Ai como dói / A solidão quase       loucura». É homenageada pela Câmara Municipal de Lisboa. Lança um       disco de inéditos Segredo. Vive       com dificuldades económicas, o que a obriga a desfazer-se de algum do seu       património imobiliário.                Morre       a sua grande amiga a pintora Maluda 1999. Fica profundamente pesarosa. Já       antes vira desaparecer o seu marido César Seabra, o seu compositor Alain       Oulmain e o seu poeta David Mourão-Ferreira que  a considerava como «a voz da diáspora e voz do terroir       (chão), voz da distância e da intimidade, com a amplitude das mais altas       vagas e a tocante descrição de recolhidos santuários».        |    
| «QUANDO CANTO, ESCUTO-ME...» | |
|         |               São       Bento é um bairro antigo de Lisboa em que se misturam odores tradicionais       com outros vindos de paragens mais distantes, de Cabo Verde. Do alto das       escadarias, guardadas por dois leões, ergue-se um edifício de traços clássicos,       o Parlamento. Seguindo rua acima, do lado esquerdo mora Amália numa casa       pombalina de sorridentes e floridas balaustradas. Quando ela passa com       aquele ar melancólico que a caracteriza, o seu sorriso contagiante       ilumina todos. Amália gosta de cantar na rua: «Quando canto escuto-me, e       quando me escuto acabo a chorar». O mercado, a padaria e o comércio       tradicional, são pontos de encontro das gentes simples. Uma vizinha fala       da sincera preocupação de Amália para com os mais necessitados: «chegou       a atravessar problemas financeiros de tanto dar».                Agora       na casa amarela de S. Bento mora o silêncio. Na varanda encontra-se ainda       pendurada uma toalha branca, símbolo solidário com o povo de Timor. Em       todas as janelas e varandas, à passagem do féretro, de S. Bento à        Estrela, toalhas brancas, estendidas.               O       coração de Lisboa chora. Flores, lenços brancos acenam. Nas ruas, nos       carros, nas lojas, por todo o lado o fado de Amália. Dor e saudade, o âmago        alfacinha, trespassam. Seis da tarde. Suave melancolia, Lisboa.       Largo da Estrela, a grande Basílica prevalece. Centenas de pessoas, as       escadarias ocupam. Tocam os sinos. O féretro da Amália chega. Emoção       geral. Nunca a multidão à solta teve tanta grandeza. Homens, mulheres,       crianças, imagens sobrepostas, redondas e volumosas, dissolvem. Caras       lampejadas, cabeças reluzentes, cabelos de cor nem loira nem escura, na       Basílica entram. Não se distingue o novo do velho, o bonito do feio. A       idade e o gesto, afirmam. Tudo se neutraliza: tempo, pessoas, coisas. Na       nave central, Amália. Tudo perde o seu relevo, tudo entra em nós…                Uma       mulher e um ramo de margaridas brancas, esperam. O adeus à «melhor       embaixadora de Portugal no mundo». Uma outra pesarosa, sussurra: «É uma       parte da nossa vida que está ali. Ela é a referência da nossa mocidade».       Apesar do frio que se faz sentir ao fim da noite, há quem não arrede pé.       Aguarda-se pacientemente a sua vez para chegar junto ao caixão. Choro       miudinho de mulheres. Espuma dos dias, milhares de pessoas, adeus à «diva       do fado». Fuga ao olhar atento da polícia: o último beijo, o último       toque. Um jovem diz que não gosta de fado, «mas ouvi-la cantar       arrepia-me». Amália descansa na paz do Senhor «mesmo que ele não       exista, eu acredito nele».                Outono       de 2000. Luminosidade morna das tardes de Lisboa. Jardim do Príncipe       Real. O Grande Cedro exala aromas. Velhos reformados jogam às cartas.       Velhas alcoviteiras, dormitam. Crianças brincam. Mulheres de pálpebras       semicerradas, vigiam. Num ramo pendurado está um rádio tal qual pássaro       feito. Ouve-se a voz de Amália: «Estranha forma de vida¯¯¯».        |    
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Gérard Depardieu
A estrela de 62 anos foi notícia a 17 de Agosto por ter chocado os  passageiros de um voo de Paris com destino a Dublin ao decidir urinar no  corredor do aparelho, depois de lhe ter sido negado o acesso ao WC. Na  altura, a imprensa francesa referiu que Depardieu estaria visivelmente  alcoolizado.
Agora, o actor aparece num rápido vídeo cómico vestido de Obélix e surge sentado num avião ao lado da personagem de Astérix. A ler um jornal, Obélix aparece inquieto e chega a exclamar: “Não posso esperar, não posso esperar!”
Porém, em vez de querer ir ao WC, a personagem está ansiosa por comer um javali. Logo a seguir, um passageiro indignado apelida-o de “asqueroso”.
O novo filme de ‘Astérix e Obélix’ apenas chega aos cinemas em Outubro de 2012.
Agora, o actor aparece num rápido vídeo cómico vestido de Obélix e surge sentado num avião ao lado da personagem de Astérix. A ler um jornal, Obélix aparece inquieto e chega a exclamar: “Não posso esperar, não posso esperar!”
Porém, em vez de querer ir ao WC, a personagem está ansiosa por comer um javali. Logo a seguir, um passageiro indignado apelida-o de “asqueroso”.
O novo filme de ‘Astérix e Obélix’ apenas chega aos cinemas em Outubro de 2012.
Subscrever:
Comentários (Atom)
